quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Vamos falar sobre cinema?

No último sábado, dia 17, o longa "Tatuagem" do diretor recifense Hilton Lacerda ganhou o Kikito de melhor filme na 41ª edição do Festival de Cinema de Gramado. Além desse, o filme ainda levou o Kikito de melhor trilha musical (DJ Dolores) e de melhor ator com Irandhir Santos. Tatuagem mostra Recife no período ditatorial e traz a tona os conflitos do jovem militar, Fininha (Jesuíta Barbosa), ao começar um relacionamento com o líder da trupe teatral Chão de Estrelas, Clecio Wanderley (Irandhir Santos).

Foto: Edison Vara
Ano passado o grande vencedor do festival foi "O som ao redor" do também recifense Kleber Mendonça Filho. Além de ganhar alguns Kikitos em Gramado, ganhou a categoria de melhor filme em outros festivais como: Festival do Rio, Festival da Polônia, Festival Copenhague, Festival de Nova York... Recebeu prêmio da crítica no Festival de Roterdã e entrou para a lista dos melhores filmes do ano segundo o jornal The New York Times assim como o austríaco Amor de Michael Haneke, Django Livre de Tarantino e Lincoln de, ninguém menos que, STEVEN SPIELBERG. Sem dúvida o cinema pernambucano vem firmando sua importância na produção audiovisual brasileira.

Durante os anos 20 a produção cinematográfica do estado era feita por encomenda de políticos e coronéis, que ao verem Recife em crise (a cidade havia perdido o posto de capital econômica do país) utilizaram esta mídia para mostrar o desenvolvimento. O movimento portuário, a construção dos armazéns e o bonde, por exemplo, estavam entre os principais temas abordados. Com a chegada do som aos filmes, vários projetos foram inviabilizados e só em 1942 o primeiro filme sonoro pernambucano é lançado, "O coelho sai" de Newton Paiva e Firmo Neto. O cinema pernambucano, apesar de ser divido em ciclos, nunca deixou de produzir filmes, entre eles vários documentários, entretanto com a chegada do manguebeat (manguebit ou mangue beat, você decide), um espírito de inovação tomou conta das produções, vários curtas foram lançados e, em 1996, Baile Perfumado de Lírio Ferreira e Paulo Caldas é exibido no Festival de Brasília coroando essa nova fase. 

Desde então foram lançados mais filmes que durante todo o século anterior. São curtas e longas que nos últimos anos têm recebido destaque e vêm sendo premiados chamando atenção para Pernambuco, fugindo do tradicional eixo Rio-São Paulo. Apesar de, até agora, o texto exaltar as maravilhas e o reconhecimento da produção audiovisual do estado, temos que reconhecer que ela não é levada em tão alta conta assim... Por mais bairrista que seja o pernambucano é muito difícil ouvir alguém dizer que assistiu (perceba que não falei em gostar) às produções pernambucanas. 

Depois de passar por todo o aperreio que é produzir um filme, apesar das leis de incentivo, a produção ainda não atinge um público com proporções razoáveis por diversos fatores. Entre eles: a falta de divulgação, a falta de espaço (cadê esses filmes nas salas do cinema mais próximo a sua casa? Geralmente eles são exibidos em seções especiais ou em cinemas alternativos) e a desconfiança do espectador. Nesse último ponto podemos elevar a discussão para âmbito nacional, por que assistir um filme que não foi tão divulgado, que ninguém conhece o diretor e que não sei se vou gostar? A comodidade de assistir uma produção Hollywoodiana é bem melhor. 

Como o Surra sempre defende o pensamento crítico, termino este post com um pedido. Abram suas mentes, procurem os filmes nacionais (já que eles não são tão bem divulgados e não chegam até você), assistam-os e deem uma chance a produção nacional e aí não falo apenas de Pernambuco, Rio ou São Paulo, o quanto estamos deixando de apreciar de outros estados? Há muita coisa boa sendo produzida, cabe a você abrir os olhos para vê-la.

Júlia Luna

De morena tropicana à estudante de letras. Torcedora rubro negra e leitora do mundo. Faço da vida um carnaval, e da minha cultura a minha fé. " A palavra é meu domínio sobre o mundo".

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