quarta-feira, 11 de julho de 2012

Mafalda e a Guerra Fria


Todos os que já se prepararam para uma prova de vestibular tiveram ao menos um contato superficial com Mafalda. A contestadora personagem criada por Quino, um cartunista argentino/espanhol, fez muito sucesso criticando tudo e todos entre as décadas de 50 e 80. Por conta dessas críticas a menina sempre esteve presente em avaliações, e por sempre estar pisando no calo dos vestibulandos em momentos de “tensão” nunca foi muito bem vista aos olhos de um monte de gente. O que eu acho um absurdo.
Mafalda é uma das minhas personagens preferidas por muitos motivos, um deles é que você consegue facilmente ver o contexto histórico por trás daqueles quadrinhos. É como ir estudar uma escola literária. O Arcadismo, por exemplo: não adianta você decorar os autores e as características estruturais da literatura árcade se não der uma olhada na sociedade iluminista na qual essa escola estava incluída. Quando lemos Mafalda e abrimos um livro de história vemos que a menina surgiu no meio da Guerra Fria, onde o mundo estava dividido em duas partes, capitalismo x socialismo, USA x USSR, Muro de Berlim... Encanta-me abrir um livro e encontrar uma tirinha como esta: 

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Essa tirinha foi extraída do livro "Toda Mafalda" que organiza, por ordem de publicação, centenas de tirinhas desde o começo “oficial” das publicações de Quino. Vez ou outra dou uma olhada no livro e tudo que eu consigo pensar é “essa questão daria uma boa discursiva pra a UFPE”. Pré-vestibulando sofre cada lavagem cerebral...
Encanta-me ainda mais olhar uma tirinha como esta, que em minha opinião foi a melhor sacada (e alfinetada) de toda a história da personagem:

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Minha gente, que coisa incrível! Eu fico até com raiva de quem fala mal de Mafalda depois de uma tirinha genial como essa. Genial. Eu não consigo pensar em outra palavra para definir Quino, que nas entrelinhas fala na “cortina de ferro” que não permite que os singelos votos de feliz natal por parte de Mafalda cheguem ao ocidente. A "cortina de ferro" que divide duas partes do mundo.
Por conta de tirinhas como essa que eu não entendo quem não consegue gostar da menina prodígio de Quino. É como não gostar de conhecer seu passado, como tapar os ouvidos para os que querem te contar uma história. De coração, espero que Mafalda faça parte das muitas provas de vestibulares que eu farei esse ano porque eu estou preparada para ela. E se for para ela cair “na boca do povo” como Clarice Lispector e Caio Fernando de Abreu eu espero que todo esse “povo” consiga entender o que há por trás dos desenhos do senhor Joaquín Salvador Lavado Tejón, pai da menina mais globalizada de todos os tempos.




Júlia Luna

De morena tropicana à estudante de letras. Torcedora rubro negra e leitora do mundo. Faço da vida um carnaval, e da minha cultura a minha fé. " A palavra é meu domínio sobre o mundo".

Um comentário :

  1. MAFALDA grande criação do argentino Quino, merecidamente um dos melhores do mundo com uma personagem politilizada e viva no contexto de um mundo contemporâneo, infelizmente ou felizmente para não se tornar repetitivo ou fora de contexto Quino a matou, assim MAFALDA, assim MAFALDA VIVERÁ eternamente e sua voz nunca se CALARÁ

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