segunda-feira, 1 de julho de 2013

Até quando você vai ficando mudo?

José acorda às 4h30min da manhã para ir ao trabalho. Ao sair, se despede da mulher e seus três filhos. Tem uma jornada longa pela frente, dois ônibus e um metrô, e no fim do mês? APENAS UM SALÁRIO MÍNIMO. Enfrenta três horas de trânsito em pé, no aperto e sente falta de um transporte público de qualidade, mas, infelizmente, agora ele só consegue pensar na mãe que está há meses na fila do SUS esperando tratamento. Freada brusca, mais aperto ao descer e, enfim, José chega ao trabalho, lá se depara com outros Josés revoltados com a notícia: a passagem acaba de aumentar 20 centavos. E não são só 20 centavos, ainda tem a volta. José não existe, mas todo dia acorda um José, e hoje eles resolveram ir para as ruas.

Foto: Leia já.

José hoje acordou, e viu que o país também é dele, José é você, José sou eu, somos nós que lotamos as ruas do Brasil nos últimos dias. Deixamos de "deixar estar" e fomos perguntar onde estão os mais de 720 bilhões arrecadados em impostos só este ano. José foi cobrar, porque o dinheiro que era para ser dele foi para os estádios de uma copa, um jogo de futebol pelo qual ele não via mais graça em torcer, não daquele jeito. A seleção foi campeã, salve Brasil, salve a seleção? Sim, salve a seleção. Mas isso não pode calar a voz de milhares de Josés que ainda estão lutando por seus direitos, os números nos protestos diminuíram, é fato, pelo fim do modismo ou pela comodidade que é sentar-se mais uma vez em frente à TV e não olhar ao redor a realidade, outros tantos ficaram pelo caminho. E esses Josés que continuam nas ruas estão apanhando sendo duramente reprimidos enquanto o povo comemora e grita gol.

A copa das confederações acabou, conseguindo ofuscar um pouco as manifestações que estão dominando o Brasil, mas será que agora podemos voltar ao assunto principal? Quando estudamos para provas na escola, não podemos deixar os assuntos acumularem, por não conseguirmos dar conta depois. O mesmo está acontecendo com o Brasil: adiamos por anos nossos problemas. E, entendam, essa bola de neve já vinha crescendo há muito tempo e nada era feito, afinal pra que serve o jeitinho brasileiro? Jeitinho Brasileiro com que nossos governantes lidaram com os problemas. Quando falamos governantes, não dizemos Dilma, ela não tem culpa da confusão "estourar" em seu governo, tanto que foi a PRIMEIRA líder mundial a ouvir as ruas. E, mais uma vez, não estamos defendendo ou apoiando nenhum partido ou governo mas parem de sair com cartazes culpando Dilma pelo gasto na copa, quem pediu a copa fomos nós, mas infelizmente houve abuso no uso do dinheiro (como sempre). E quando finalmente "acordamos" e conseguimos conquistar algumas medidas, o movimento perde força. Sim o MPL (Movimento de Passe Livre) saiu da frente dos protestos, mas só por isso devemos nos acomodar? Acomodar por conseguir derrubar a PEC 37 e diminuir o preço da passagem em muitas cidades no Brasil? Enquanto governadores continuam ganhando um absurdo e o nosso dinheiro continua sendo desviado a todo momento? Enquanto Feliciano continua tentando dar força a ideias intolerantes para um país laico?

A resposta é não. Não devemos nos acomodar. Ninguém disse que iríamos acordar um belo dia com todos os problemas resolvidos, né? As coisas não caem do céu. “Mas eu não posso ir às ruas porque eu trabalho ou porque meus pais não deixam ou porque eu tenho medo ou...” lembrem-se: o que deu força a esse movimento? O que fez com que tudo tomasse a proporção que tomou? A internet. As redes sociais. Um compartilhamento não é só mais um compartilhamento, um tweet não é só mais um tweet, pessoas vão ler e alguém vai se sentir tocado e impulsionado a fazer o mesmo, a lutar.

Ok, supondo que conseguimos convencê-lo a continuar na luta vem a pergunta: lutar pelo quê? Os motivos acima não bastam? Todos querem saúde, transporte e educação de qualidade, o fim da corrupção e da miséria, mas esses motivos não generalizam demais? O grande problema é o foco. Por onde começar em uma cidade como Recife que levou milhares às ruas com ideologias e pedidos dos mais diversos? É aquela velha história de que quem tudo quer acaba sem nada, por isso o foco é tão importante. Por onde começar um novo Brasil? O grupo Anonymous Brasil propôs cinco causas pelas quais devemos ir atrás e, dessas cinco, duas já foram atendidas, aos poucos completaremos a lista e acrescentaremos mais reivindicações.

Entretanto, fazendo uso de um clichê que tem se repetido nesses tempos, nada muda se o povo não mudar. Por isso argumentem, pensem, leiam, discordem, critiquem... Retomando o texto de Tom Zé com que voltamos ao blog: NÃO SE TORNEM ‘ANDROIDES’, “pensar SEMPRE será ousar”. Sejamos ousados para que não sejamos usados, mais uma vez.


Júlia Luna

De morena tropicana à estudante de letras. Torcedora rubro negra e leitora do mundo. Faço da vida um carnaval, e da minha cultura a minha fé. " A palavra é meu domínio sobre o mundo".

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