quarta-feira, 20 de junho de 2012

Quadrilha, 3º ano 2012

Uma das maravilhas de ser terceiranista é aquela vontade de participar de tudo. Prenda pra vir todo mundo brega? Simbora! Rifa do carrinho de mão de seu Zé do bar do cavanhaque? Conte comigo! Com a quadrilha junina não seria diferente...
O post da quadrilha deve ser feito por uma pessoa que seja mais apaixonada por isso do que eu, certo? É o papel perfeito para Júlia. Deixo com vocês a peça que foi produzida por nós duas e só digo uma coisa: esperem por fotos e vídeos!


PERSONAGENS:

NOIVO – João Victor
NOIVA – Beatriz
DELEGADO (PAI DA NOIVA) – Diego
MÃE DA NOIVA – Sandra
PADRE – Tharsis
CANGAÇEIRO – Diogo
FILHA DO CANGAÇEIRO – Caroline

           

            Lá no interior de Pernambuco uma grande festa começa. É época de São João! Muita comida típica; pé-de-moleque, canjica, milho cozido, milho assado, bolo de milho, além de fogos de artifício e muita molecagem. Algumas pessoas já estão dançando no clima da mais bela quadrilha do sertão. Todos estão chegando, pois já já vai começar o casamento.

(Padre e noivo já estão em cena, os personagens começam a entrar, alguns saem do meio da platéia e outros entram pela porta de fora, ao som de “Carcará – Otto”. Ao fim da música todos sentam-se em seus lugares)

(Começa a tocar a marcha nupcial, a noiva se recusa a entrar. Até que começa a tocar xaxado)

O casamento começa a ocorrer, todos parecem muito felizes, até que o padre pergunta:

PADRE – Se alguém aqui nesse arraial tem algo contra esse casamento fale agora ou cale-se para sempre.

(Uma grande batida se escuta e todos tomam um susto. Entra o cangaceiro armado.)

CANGACEIRO – A minha pessoa tem!

NOIVO (se tremendo de medo) – Vixe minha nossa senhora!

PADRE – HOMI! Tu já causa terror demais pelo sertão, ainda tem que atrapaiar esse casório?

CANGACEIRO – Seu padre me desculpe, mas o senhor não se meta porque o meu “pobrema” é com esse cabra safado aí . (aponta a arma para o noivo) É hoje que tu morre!

(A noiva se desespera e fica na frente do noivo, protegendo-o, enquanto as pessoas começam a fazer barulho, inquietas)

NOIVA – Eu não vou ficar sem noivo! Vire essa arma pra lá!

CANGACEIRO – Não quero atirar em tu não, bichinha, saia da minha mira!

PADRE – (se aproximando do cangaceiro) – mas o que foi que esse cristão fez pra tu querer matar o pobre?

NOIVA – Ai meu Deus! Mas o que foi que tu fez, homem? (Coloca a mão na cintura e encara o noivo)

CANGACEIRO – Ah, então ‘ocês’ não ficaram sabendo? (abaixa a arma e dá uma gargalhada) Esse sujeito aí - (apontando para o noivo) -  embuxou minha ‘fia’!

(todos fazem caras de surpresa e soltam um grande “OOOOH”)

PADRE – Meu Sehor! É hoje que alguém morre! (Leva as mãos à cabeça)

NOIVA(puxando o noivo pela gola) - Tu embuchou a fia desse sujeito?

NOIVO(ajoelhado) – Embuchei não, minha cabritinha!

NOIVA (gritando) – Cabritinha nada! Embuchou ou não?

NOIVO – (beijando as mãos da moça) Embuchei não!

NOIVA – Embuchou não? (diminuindo o tom)

NOIVO – Embuchei não!

(Noiva se dirige ao cangaceiro)

NOIVA – Ele não embuchou fia de ninguém aqui! (ouve algumas tossidas)

CANGACEIRO – Embuchou sim!

NOIVA – Embuchou não, que ele não mente!

CANGACEIRO – Ele não mente? Bora ver! (gritando) Toinha! Cadê você? Entre aí, minha princesa do cangaço!

(Entra a filha do cangaceiro, e o noivo se esconde atrás da mulher)

FILHA – Agora quero ver tu me dizer que esse bucho num é teu!

NOIVA E NOIVO(surpresos) – Ela ta prenha mesmo!

CANGACEIRO – Eu rodei o sertão atrás de tu, seu peste! E eu digo e repito, hoje é o dia da tua morte! Ninguém mexe com minha princesinha não!

FILHA – E eu digo e apoio meu pai, hoje é o dia da tua morte, “disgraçado”!

NOIVO (dirigindo-se à mulher) – Eu nem conheço ela, cabritinha! Num me oie assim que eu num fiz foi nada!
FILHA – Ah, fez não? Tu ta se esquecendo daquela noite em Cabrobó, é, sujeito? Tu quer que eu lembre?

NOIVO – NÃO!

NOIVA – Tu dormiu com a filha do cangaço, hômi?

FILHA – Ta vendo que tu não esqueceu! Só esqueceu do bucho que deixou em mim.

NOIVO – Esse bucho não é meu não!

FILHA – É teu sim!

NOIVO – Embuchei não!

FILHA – Embuchou sim!

NOIVO – Embuchei não!

TODOS NO CASAMENTO – Embuchou sim!

NOIVO – Vixe minha nossa senhora, complicou!

NOIVA – Seu cabra safado! Tu mentisse pra mim! - (vira pro cangaceiro) - Pois agora eu quero que mate!

NOIVO – Não, minha cabritinha! (de joelhos implorando por sua vida)

CANGACEIRO – Já que a noiva permitiu, agora eu mato! (Aponta a arma pro noivo)

(Noivo –ainda ajoelhado - começa a rezar.)

PADRE – Hômi, não faça isso, o que ele tem que fazer pra não morrer?

FILHA – Ele tem que se casar comigo!

CANGACEIRO – Pois se é isso que tu quer, minha fia, tu vai ter!

NOIVO(se levantando) – Mas com ela eu não caso!

CANGACEIRO – Então eu te mato!

MÃE DA NOIVA – É o quê? Homi, tome uma providência aí, cadê o cabra macho?

DELEGADO – (se tremendo) – Tô aqui! – (se apruma e penteia o bigode, ajeita a voz) – Opa opa opa, ninguém aqui vai matar ninguém! Não quero ninguém morto!

MÃE – E Minha fia não fica sem noivo

DELEGADO – Não fica sem noivo!

CANGACEIRO – A minha também não! Tais querendo me enfrentar é cabra? Só porque tu é delegado?

DELEGADO – (todo medroso) – Eu mesmo não!

NOIVA – Ó pra isso, mainha, painho vai deixar ele se casar com ela!

MÃE – É o quê?

DELEGADO – Mas minha fia, tu mesma disse pra matar o cabra!

NOIVA – Eu disse matar porque vivo ele só casa comigo!

FILHA – Apois bora ver se ele não se casa comigo!

(As duas ficam se encarando e gritando coisas sem nexo, enquanto o cangaceiro aponta sua arma para o noivo. Vendo essa cena, a mãe da noiva manda o marido apontar a arma pra o cangaceiro, e esse o faz se tremendo todo. Diante disso o padre se desespera e grita.)

PADRE – Parem já!

(Todos se calam, imóveis, olhando para o padre.)

PADRE – Ocês não vão acabar com esse arraial! Muito menos com o casamento! E ocês dois – (falando com o delegado e o cangaceiro) – abaixem essa arma ou eu expulso os dois daqui.

(Os dois abaixam as armas.)

CANGACEIRO – Desculpe, padrinho. (Abaixa a cabeça)

PADRE –  Tu pare de ser afoita, visse mulher! Deus ta vendo tudo! - (mãe da noiva cruza os braços) - E ocês duas – (apontando para a noiva e a filha do cangaço) – olhem o vexame! Duas moças brigando na frente dessa gente toda!

NOIVA – Mas ela quer me deixar sem noivo!

FILHA – E ela quer deixar meu fio sem pai!

MÃE DA NOIVA – Minha fia não fica sem noivo!

DELEGADO – (imediatamente imitando o gesto da mulher) – Minha fia num fica sem noivo mesmo não!

CANGACEIRO – E a minha não fica mãe sozinha não!

(Padre fica pensativo.)

NOIVO – Eu me caso com as duas! Cabô-se!

MÃE DA NOIVA – VIXI MARIA!

DELEGADO – VIXI MARIA!

PADRE – Valha-me Deus! Isso aí não pode, meu filho!

NOIVO – Como assim não pode? A vontade de Deus não é ver todo mundo feliz? Me casando com as duas faço todas as duas felizes!

NOIVA – Eu vou ter que dividir meu marido, é? Com essazinha eu não divido não!

FILHA – É o quê?

MÃE DA NOIVA – Fia, não complique, senão tu já já fica sem noivo!

DELEGADO – É, já já fica sem noivo!

CANGACEIRO – Essa história num ta me agradando...

NOIVO – Mas num tem que agradar mesmo não! É tua fia que decide, e eu quero me casar com as duas! - (vira-se para a noiva) - Ou tu quer ficar sem marido – (vira-se para a filha) – e tu sem pai pro filho?

NOIVA E FILHA – NÃO!

PADRE – Se todos ficarem felizes e ninguém morrer, eu faço o casório!

CANGACEIRO – Se minha princesinha quiser...

NOIVO – Vamo que eu não quero morrer não... Casam ou não casam?

(As duas se entreolham, sorriem e concordam.)

NOIVA E FILHA – Casamos!

MÃE DA NOIVA – Faça logo as honra, seu padre! Que ainda quero dançar quadrilha!

DELEGADO(puxa a mulher pro lado) – Isso mesmo, ainda queremos dançar!

(Noivo puxa uma para cada lado e todos ficam em posição para o casamento)

PADRE – Estão todas felizes? Aceitam se casar? – (Noivas concordam) – Então que comece a dançar a quadrilha mais aprumada desse sertão!


            E assim a noite acabou feliz, e o mais importante, com todos vivos. A mais bela quadrilha agora dançava sobre a chama da fogueira e sob os fogos de artifício.




PS: substituam o nome "cangaceiro" por "coronel".
Tenham um bom São João!

Júlia Luna

De morena tropicana à estudante de letras. Torcedora rubro negra e leitora do mundo. Faço da vida um carnaval, e da minha cultura a minha fé. " A palavra é meu domínio sobre o mundo".

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