quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sobre a decisão dos familiares da turista Bruna Gobbi.


Na última segunda-feira, dia 22 de Julho, morreu Bruna Gobbi, turista paulista que foi atacada por um tubarão na praia de Boa Viagem. Após a morte da adolescente a família decide processar o Estado. Depois do tio da garota declarar a vontade da família em processar o Estado tenho observado uma reação geral da opinião pública, qual seria ela? Vamos lá. "Agora o Estado tem culpa porque o tubarão resolveu morder a menina?" ou então: "Não foi por falta de placa indicando o perigo, ou assistência dos bombeiros que ela morreu, assumiu o risco e o Estado não tem nada a ver com isso."

Antes de formar uma opinião sobre qualquer assunto é interessante analisar todos os lados do problema, sempre há mais um ponto de vista. E no entanto, numa pesquisa rápida só encontro críticas à família Gobbi e NADA que relaciona a morte da menina a outro problema que pelo visto os pernambucanos esqueceram. Antes de me criticarem com unhas e dentes, por favor, leiam o que eu tenho a dizer, procurem outras fontes, se informem e depois tirem suas conclusões (opiniões diferentes devem sempre ser respeitadas), não sejam vítimas da notícia pronta, fujam do homem-massa.

O litoral metropolitano de Recife vai da praia do Carmo, em Olinda, à praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, num total de 30 quilômetros. Em toda essa extensão existem 88 placas com os dizeres: "PERIGO. Área sujeita a ataque de tubarão". Não foi por falta de aviso. No dia do acidente, Bruna foi socorrida rapidamente pelos guarda-vidas o que mostra que o litoral tem um eficaz corpo de bombeiros que está em constante alerta. Não foi por falta de assistência.

Por um momento, peço a quem lê este post que esqueça o caso de Bruna. A história pode nos apontar o porquê do Estado ter uma parcela de culpa não só na morte dessa turista, mas de todas as outras pessoas que foram atacadas e/ou mortas por tubarões em Recife. 

As ocorrências de ataques de tubarão no mar recifense começaram a ser contabilizadas e se tornaram mais frequentes desde de 1992. Antes desse ano não há registros desse tipo de ocorrência, logo, se acontecia, o que não posso dizer com certeza porque não existem registros oficiais, era algo muito raro. Então eu lanço uma pergunta, o que aconteceu com os tubarões para eles decidirem simplesmente se mudar? Por que saíram do seu habitat para atacar humanos? (Nota: os tubarões não ingerem a carne humana, eles atacam geralmente acreditando que estão se alimentando e ao perceberem o 'gostinho diferente', põem pra fora.)

E aí, pensou numa resposta? Ainda não? Apresento-lhes então alguns fatos.

Em 1983, o porto de Suape começou a operar e em 1991 começou a receber contêineres (não inventei esses dados, eles foram retirados da página oficial do porto: http://www.suape.pe.gov.br/), não é estranho que um ano após o início do tráfego de navios tenham se iniciado os ataques?

Não, não é nem um pouco estranho. O que não faltam são pesquisas que alertam os problemas ambientais causados pela construção de Suape. Não irei me aprofundar citando pesquisas e apontando prós e contras, aquela velha luta entre progresso e o meio ambiente (que geralmente sai perdendo). Entretanto é fato que com a construção do porto mangues foram destruídos, tais mangues eram utilizados como berçário das fêmeas de tubarão cabeça-chata que foram obrigadas a migrar para o estuário do rio Jaboatão, esse rio desemboca nas praias recifenses. 

Deixo-lhes mais algumas perguntas para acabar de vez com este texto. Se o governo sabia dos problemas ambientais que poderiam ser causados com a construção de Suape e mesmo assim seguiu com o projeto em nome do desenvolvimento, não seria ao menos correto e humano que o Estado pagasse uma indenização às vítimas? Ou, proibisse de vez o banho de mar em áreas perigosas, mesmo que essa decisão desagrade a população, mas a mantenha viva?


Júlia Luna

De morena tropicana à estudante de letras. Torcedora rubro negra e leitora do mundo. Faço da vida um carnaval, e da minha cultura a minha fé. " A palavra é meu domínio sobre o mundo".

3 comentários :

  1. Creio que essa situação é bem simples:

    De um lado temos várias pessoas já prejudicadas por esses ataques, de outro o governo.


    Não dá para culpar o governo disso. Talvez, nos primeiros ataques sim.... mas as providências que ele poderia tomar já estão em jogo.

    Tanto os avisos como diversos grupos do Corpo de Bombeiros estão lá... para tentar evitar isso.

    De toda maneira, creio que alertadas do perigo, tanto das correntes quanto dos tubarões, a escolha de permanecer na água foram delas. Uma pagou o preço disso.


    O que estou querendo dizer é que não foi uma coisa inusitada... vários e vários ataques ocorreram nessa região. E com POUCAS exceções, as pessoas não foram alertadas. Ou seja, na maioria das vezes foi imprudência.


    Seguindo o mesmo raciocínio:


    Um fumante processar sua marca de cigarro, pois não tinha avisos o suficiente na caixa.


    Me desculpe, mas isso é querer culpar alguém por ter dado um tiro no próprio pé e não ter sido avisado de que iria machucar.

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    1. Entendo muito o bem o seu posicionamento,entretanto a questão maior do post é problematizar o fato de que as pessoas não teriam que passar por certas situações, apresentei alguns fatos que na minha opinião estavam sendo esquecidos. Minha intenção a partir daí não é criticar quem pensa diferente ou querer que todo mundo pense igual, mas que as pessoas se informem e embasem suas opiniões em argumentos sólidos (como você fez e muito bem), porque eu cansei de ver gente denegrindo a família sem antes parar pra se perguntar se eles não teriam ao mínimo uma pontinha de razão. Obrigada por ler o Surra de Alpercata!

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    2. Não fiz uma crítica à postagem... e sim a situação haha. Mas enfim, entendo totalmente seu ponto.E para complementar:


      Creio que a culpa seria do governo se esse caso fosse semelhante à o caso de Chernobyl. Onde ocorreu a explosão de um reator nuclear, e a cidade mais próxima (pripyat) só foi avisada muito tempo depois por imprudência do governo. Esse é o caso em que o governo não protegeu sua população como devia, e matou milhares de pessoas.


      Aqui temos um caso "controlado". No qual o porto foi construído, vários mangues foram aterrados e destruídos... e como você disse, foi por um "investimento".


      Com isso, a desestabilização da fauna local foi visível. O resultado são os ataques de tubarões. Visto que os tubarões desovavam lá e seus filhotes se alimentavam no mangue. Nesse caso, a espécie cabeça chata é totalmente adaptável a água doce. Incrivelmente ela está ligada a maioria dos ataques. E depois outro caso o Tubarão tigre, que é bem agressivo. Ele se alimentava e caçava nos mangues. Também está relacionado com os ataques.

      Com isso o governo tomou a medida de espalhar placas pelas praias para conscientizar os banhistas de que a área corre riscos de ataque( não sei dizer se isso foi depois de alguns ataques ou antes.). Alertando os banhistas de que, estavam por sua conta e risco dentro do mar.



      Então, sabendo de todo esse histórico e todos esses avisos, não tem como culpar o governo pelo ataque e morte da garota.


      Entretanto, INDIRETAMENTE ele está ligado a destabilização da fauna e consequentemente com os ataques. Creio que, processar o governo por esse motivo... ai já é outros 500.


      Mas a família alega a falta de avisos e que não houve o socorro adequado.

      Creio que infelizmente é apenas uma família que está desesperada para punir alguém pela morte de um ente querido... e acaba ficando cega perante os fatos.



      Eu que agradeço por vocês escreverem haha, adoros os textos. Um abraço \o

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